terça-feira, 18 de agosto de 2009

II Festival Psicodelia Castell de Guadalest


Quando iniciei este blog, nada faria prever que quase um ano depois, um festival dedicado ao género surgiria aqui 'tão' perto. Apesar de ter sido a segunda edição, não é porém comparável à primeira em termos de dimensão, principalmente no que toca às bandas presentes.
Comparado com festivais acessíveis só para alguns, por diversas razões, como o DunaJam ou até mesmo Roadburn, só tenho de agradecer aos deuses que um festival assim tenha surgido para poder ver bandas como Colour Haze ou Earthless.
É um festival com muito a melhorar em termos de organização, e as limitações tiveram, infelizmente, muito presentes. O cartaz compensou isso tudo, e fez-me planear as viagens para as seguintes edições, acreditando numa nova lista de bandas pelo menos quase tão boa como a que se assistiu este ano, mas esperando que o festival não caia em pressupostos ultra-comerciais.

O cartaz compensou também a viagem que tive de fazer para chegar a Castell de Guadalest, pois a loucura de não ir de carro acentuou-se com o isolamento desta aldeia histórica, que apesar duma beleza indiscutível - cenário fantástico para dois dias de música 'orgasmicamente' psicadélica -, é demasiado 'perdida' nas montanhas, que mesmo em Benidorm que fica a 30 km, pouca gente conhecia este local...
Quase totalmente virada para o turismo, Guadalest viu-se invadida nos dias 24 e 25 de Julho por centenas de festivaleiros, mas nada que impressionasse quem lá vivia, que apesar do 'barulho' (sim, Earthless a tocarem quase até o nascer do sol), só tinham de agradecer o excelente espírito que por lá se viveu, com os miradouros (com vista para o castelo e para o rio de cor rara) e as esplanadas totalmente cheias, e com as ruas estreitas a servirem de abrigo para os cerca de 35ºC que se faziam sentir. Veio gente de todos os cantos da Europa, incluindo um bom número de portugueses, alguns dos quais a representarem bandas do género como os Black Bombaim ou Guv. Em Colour Haze e em Earthless fize'mos' questão de ameaçar subir as grades que nos separavam do palco, mas quem nos pode culpar? Bandas destas dificilmente viriam a Portugal...Mas já lá vamos...
Foram dias de puro prazer não só para os ouvidos... Fica a certeza de que num festival destes quase podemos ver Deus. Não, não falo de Stephan Koglek, Isaiah Mitchell, ou Mario Rubalcaba...
Para o ano há mais...

Site do Festival:
http://festivaldelcastell.com/


--Dia 24--

Quid Rides?
Esta banda de 'miúdos' marcou presença neste festival com o intuito de apresentar o seu álbum de estreia Amalgama. Post-Rock no seu esplendor, para aquecer (perdão, arrefecer) as poucas dezenas que assistiam. Tocaram com muita confiança, e quem assistiu aplaudiu...


Moön

O papel de substituir os clássicos Groundhogs (problemas de saúde de Tony Mcphee) ficou a cargo dos Möon, banda vinda de Alicante, ali tão perto... Riffalhadas com poucos vocais, Karma to Burn em tons de 70's. Quase nenhum psicadelismo, é certo, mas que caiu muito bem aos poucos que assistiam. Versão de Rat Salad despertou atenções, e compensou quem já abanava a cabeça com fulgor... Parece ter também despertado as atenções ao Dj responsável pela música nos intervalos dos concertos, que depois de ter passado Pink Floyd e Hawkwind, passou, a partir daqui, a não conhecer mais nada a não ser Black Sabbath...


Dixon II

E por falar em Black Sabbath, Dixon II apresentaram-nos músicas 'doomescas' ampliamente influenciadas não só por Sabbath como Hawkwind, principalmente nos trejeitos psicadélicos vindos do órgão. Mais uma banda heavy, a celebrar a noite que já era cerrada... Trouxeram um segundo baterista, não se percebeu bem porquê, mas mostraram que são uma banda de sonoridade bem definida, com Great Funeral Magic a mostrar isso, quer da banda, quer das pessoas que ouviam com muito agrado...Celebração do Heavy obscuro e arrastado no seu auge...


Mater Dronic

Podia dizer maravilhas desta banda formada em Toledo, não era para menos: depois de meia hora a subir a pé a estrada que liga Callosa a Guadalest debaixo de cerca de 40ºC, a faltarem 10 km e 2 horas e meia para o ínicio do festival, e sem carros que nos dessem boleia, é então que estes tais Master Dronic a bordo duma carrinha azul param, encolhem-se, e nos levam com eles...Entre muitas coisas, contaram-nos que já tinham feito uma espécie de tour no nosso país (Porto Rio incluído) há uns anitos, sob o nome de T-Sex. Mas mudaram de guitarrista e de nome, e pelos vistos de musicalidade também. Aproveitando o facto de me terem oferecido um álbum de T-Sex (depois de ter dito que lhes comprava todos os álbuns só pela boleia), concluo que a mudança se deve a Jose Carlos Sisto, guitarrista de grande capacidade técnica e melódica, que não tem mãos a medir nos solos que toca...Rock, simplesmente Rock, dotado duma guitarra que pode fazer quase tudo...Riffs que parecem solos, solos com grande carga psicadélica, bons refrões, e Jose Sisto a reencarnar Neil Young em todos os aspectos: momento da noite, Down by The River a ser tocada no meio dum solo improvisado, e cantado em uníssono pela plateia, foi bonito...


Traummaschine e Beiruth

Depois de uma série de bandas pouco ou nada psicadélicas, nada melhor que ir ao extremo do rock psicadélico juntando duas bandas que não só reencarnaram os Hawkwind (principalmente pelo pormenor das vestimentas), como o fizeram totalmente ao improviso...Ficou a sensação de que os músicos competiam para ver quem sacava mais sons psicadélicos; o que é certo é que durante cerca duma hora, tocaram sem parar, e o nome do festival fez muito mais sentido...


Colour Haze

Não é pecado nenhum dizer que eram os cabeças de cartaz do festival, mesmo que houvesse expectativas maiores em relaçao a Earthless, eram aos alemães Colour Haze a quem cabia trazer o máximo de pessoas ao festival. Em relação aos dois dias talvez não fosse bem assim, mas era-o com toda a certeza no primeiro dia, onde partilharam o palco com as bandas mais 'desconhecidas' do cartaz. Facto que parecendo estranho, até tinha a sua lógica. O cartaz de luxo que se apresentava no segundo dia podia bem competir apenas com os Colour Haze e Groundhogs. Estes últimos cancelaram é certo, mas os Colour Haze fizeram questão de mostrar porque são a banda Stoner (eles não se importam com esta classificação) mais activa e respeitada do momento. E não desiludiram as dezenas de festivaleiros que esperaram por eles todo o dia 24. Após alguns problemas técnicos, supostamente devido às cordas da guitarra de Stephan Koglek, como o próprio me confessou no soundcheck (já tinha ganho o dia só pela conversa :), e depois dum atraso algo estranho, que deixou os três músicos parados em palco à espera de poderem começar (teria mesmo sido por causa do dançarino?), os Colour Haze foram iguais a si próprios, não inventaram, e não surpreenderam, mas nem precisavam.
Para quem estaria preocupado se a banda tocaria principalmente temas do mais recente álbum 'All', pôde ficar descansado à terceira música. Depois das bem recebidas Silent e Moon, as primeiras notas de Aquamaria deixaram o público a salivar perante o génio de Koglek. Do 'All' ainda se ouviu a Lights, a Stars e a All, mas de resto, foi um alinhamento que buscou um pouco de cada álbum, dentro dos possíveis claro, tendo em conta a extensa boa discografia da banda. Peace, Brothers and Sisters, Tempel, e a orgásmica Love a fechar foram as mais sentidas pelo público, de resto as rockalhadas deram lugar às músicas mais psicadélicas com exemplo da Sundazed a ser das poucas representantes do Les Sounds of Krauts. Os três músicos pareciam concentradíssimos e nem os problemas causados pelo vento prejudicaram o profissionalismo e genialidade da banda. O encore acabou por ser o mais surprendente. Para quem esperava que se tocasse a Outside (mas perdoa-se pela quantidade de vezes que o riff foi tocado nos testes) ou mais hinos psicadélicos da banda, é I won´t stop e uma já bem antiga Get it On a porem o headbanger do público no máximo. Mesmo com Koglek a pedir desculpa pelo cansaço e por não tocarem mais, restou ao público perguntar 'Qual cansaço?'...Foi a primeira vez que tocaram em Espanha, e fica a promessa de virem em Portugal...


--Dia 25--

Mystic Frequency Worm
Stoner-rock feito de riffs e vocais à imagem do bom velho hard-rock, foi o que ouvimos destes madrilenos que traziam na bagagem o seu disco de estreia From the top of the sound mountain. Boa maneira para começar um segundo dia repleto de grandes bandas, e de sonoridades diferentes. Perante uma plateia que ia crescendo incomparavelmente com o dia anterior, mantiveram-se muito seguros e muito à vontade em palco, compensados por uma boa recepção, principalmente daqueles que adoram umas boas riffalhadas à anos 70.


Causa Sui
Os dinamarqueses Causa Sui, apesar de serem umas das bandas com mais renome, foram colocados estrategicamente em segundo, comprovando um alinhamento que se viria a mostrar como um dos pontos positivos do festival. Já 'longe' vão os tempos em que os Causa Sui eram uma banda com um vocalista e com uma vontade de 'arrebentar com tudo', mesmo assim foi uma pena, pelo menos para os poucos fãs mais devotos presentes no festival, que o concerto se tenha centrado apenas nas epopeias psicadélicas das summer sessions, principalmente no segundo e terceiro volumes que saíram no mês passado. Mas acabava por fazer todo o sentido: num festival que se quer psicadélico, numa paisagem fantástica e num alinhamento que os pôs a tocar durante o pôr-do-sol, todas aquelas músicas pareceram perfeitas para o momento. O destaque vai para a belíssima Red Valley, anunciada pelo guitarrista Jonas Munk como sendo dedicada ao Sol vermelho que se começava a esconder nas montanhas, belo momento sem dúvida...Apesar de tudo, antes de inciarem o concerto, Munk teve de pedir ao público que se aproximasse do palco, tamanha ainda era a dispersão, algo estranho para uma banda como esta. Mas se os que não conheciam muito bem Causa Sui eram assim tantos, de certeza que depois do concerto não ficaram indiferentes aos épicos psicadélico-progressivos tocados com uma delicadeza única, por quatro músicos que mesmo tocando sem saxofonista foram fiéis às músicas de estúdio, e apresentaram-se com uma calma irreconhecível comparada com os primeiros anos.


Viaje a 800

A jogar em casa, os Viaje a 800 sabiam que eram a banda mais querida do público (espanhol concerteza), e ofereceram um concerto direccionado para os fãs e não tanto para quem os desconhecia. Digo isto pelo alinhamento das músicas, que mesmo não se centrando unicamente em Estampida de Trombones e Diablo Roto, houveram músicas que surpreendentemente ficaram de fora. Mesmo assim, a banda de 'Stoner que não usa riffs Stoner' mais internacional de Espanha, pôs a multidão a cantar em coro aos primeiros versos de Los Angeles Que Hay En Mi Piel, com o vocalista dos Dixon II a dar uma 'mãozinha' no palco (sim, porque 'vozinha' não se ouviu lá muito bem)...De resto foi um grande concerto, com as potencialidades 'metal' do guitarrista Pol Elder a porém o público a abanar a cabeça constantemente com tanto groove, agradecidos pelo sorriso também ele constante dos três músicos que pareciam tocar como se nada fosse. A música faz jus ao nome da banda, é certo, mas foi com uma enorme e lenta Roto Blues a pôr-nos a viajar a um Doom tão ausente no festival, que o concerto terminou. Pediu-se mais...Não houve mais...Soube a pouco...


Witchcraft

Da Suécia chegou-nos a banda que parece ser um clássico mas não é, Witchcraft, que mobilizou muitos fãs para o festival, é já um culto no panorama Heavy não só na Europa. Os riffs mais que batidos pelos Black Sabbath, acompanham os vocais fenomenais de Magnus Pelander, construindo verdadeiros clássicos heavy doom como Hey Doctor ou Lady Winter, que puseram a plateia ao rubro. O alinhamento foi extenso, tocaram grande parte dos três álbuns, os fãs mais fervorosos só tiveram de agradecer, e na verdade foi um grande concerto, que pondo de parte as piadas de Pelander com o nome da localidade, fez estremecer até os muros do castelo.


Astra
À semelhança do que aconteceu no dia anterior, coube à penúltima banda trazer o rock psicadélico na sua máxima força, neste caso com bases muito progressivas. Os Astra são uma banda de San Diego, tal como os Earthless, e com um potencial enorme comprovado no seu álbum de estreia The Weirding, um dos melhores do género desde que os Pink Floyd, King Crimson, Yes e companhia mostravam que o rock progressivo era o género de música mais inteligente e contemplativo que podia existir. Não vou tão longe, mas o que se viu e ouviu foi rock progressivo que arrepia. Os californianos fizeram com que o público fechasse os olhos diversas vezes para ver qual era a sensação. O meu apreço pelo guitarrista, que mesmo com a correia sempre a sair, tocou como pôde, e sem nunca falhar.


Earthless
Earthless são uma força da natureza que apanhou desprevenidos muitos dos presentes...Foi O concerto do festival, a todas as pessoas que ficaram as duas horas e meia de boca aberta perante três músicos na casa dos 'quase' 40 anos, que tinham doses de adrenalina acima do normal, posso dizer que também fui uma dessas. Quem nunca os viu ao vivo devia saber que os dois álbuns são apenas amostras dum psicadelismo que se quer tocado durante horas, sem regras, como num mundo à parte se tratasse.
Isaiah Mitchell toca como ninguém, é fantástico assistir a algo assim. São únicos e fizeram questão de o mostrar tanto, que pouco faltou para terem tocado até ao nascer do sol, não aconteceu, foi uma pena, mas só temos de agradecer a entrega dos músicos, principalmente Mario Rubalcaba que nem fazendo anos, poupou qualquer esforço, e pensava eu não ser possível tocar bateria daquela forma durante mais de duas horas praticamente seguidas. Tirando a versão de Cherry Red dos Groundhogs, não consegui sequer identificar as músicas pelas melodias do baixo, mas nem interessa, Earthless foi um grande, grande charro nessa noite.
Foi brutal...Foi o fim do festival mais desejado, suplicou-se que tocassem mais e mais, mas para tudo há limites, e contentamo-nos com a guitarra ácida de Mitchell a zumbir-nos nos ouvidos até mesmo depois de adormecermos no recinto.

4 comentários:

  1. Quero ir À proxima edição

    Boa review

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  2. Obrigado pela review

    Muito boa publicidade a um festival
    perto de Portugal, que desconhecia por completo.
    2 grandes bandas (para mim) e outras que nao ficam atras.
    Sabes onde posso me informar melhor... site, blog ou myspace para ver o preço dos bilhetes e cartaz?

    Estou lá na proxima edição.

    Abraço e continua com o bom trabalho

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  3. Olá ricardo, agradeço o teu elogio e o comentário, na verdade este blog está inactivo, mas num futuro próximo irei reanimá-lo com mais reviews...
    Quanto ao festival, o site oficial é este http://www.festivaldelcastell.com/ e o myspace é http://www.myspace.com/festivaldelcastell
    Apenas está confirmada a terceira edição para dia 30 e 31 de Julho, com os Groundhogs e Ortodox a serem as únicas bandas confirmadas até agora.
    O bilhete geral (2 dias) no ano passado custou 40 euros comprado pela net, no local é mais caro.
    O mais complicado é mesmo ir para lá... Mas vale a pena!

    Abraço

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