terça-feira, 18 de agosto de 2009

II Festival Psicodelia Castell de Guadalest


Quando iniciei este blog, nada faria prever que quase um ano depois, um festival dedicado ao género surgiria aqui 'tão' perto. Apesar de ter sido a segunda edição, não é porém comparável à primeira em termos de dimensão, principalmente no que toca às bandas presentes.
Comparado com festivais acessíveis só para alguns, por diversas razões, como o DunaJam ou até mesmo Roadburn, só tenho de agradecer aos deuses que um festival assim tenha surgido para poder ver bandas como Colour Haze ou Earthless.
É um festival com muito a melhorar em termos de organização, e as limitações tiveram, infelizmente, muito presentes. O cartaz compensou isso tudo, e fez-me planear as viagens para as seguintes edições, acreditando numa nova lista de bandas pelo menos quase tão boa como a que se assistiu este ano, mas esperando que o festival não caia em pressupostos ultra-comerciais.

O cartaz compensou também a viagem que tive de fazer para chegar a Castell de Guadalest, pois a loucura de não ir de carro acentuou-se com o isolamento desta aldeia histórica, que apesar duma beleza indiscutível - cenário fantástico para dois dias de música 'orgasmicamente' psicadélica -, é demasiado 'perdida' nas montanhas, que mesmo em Benidorm que fica a 30 km, pouca gente conhecia este local...
Quase totalmente virada para o turismo, Guadalest viu-se invadida nos dias 24 e 25 de Julho por centenas de festivaleiros, mas nada que impressionasse quem lá vivia, que apesar do 'barulho' (sim, Earthless a tocarem quase até o nascer do sol), só tinham de agradecer o excelente espírito que por lá se viveu, com os miradouros (com vista para o castelo e para o rio de cor rara) e as esplanadas totalmente cheias, e com as ruas estreitas a servirem de abrigo para os cerca de 35ºC que se faziam sentir. Veio gente de todos os cantos da Europa, incluindo um bom número de portugueses, alguns dos quais a representarem bandas do género como os Black Bombaim ou Guv. Em Colour Haze e em Earthless fize'mos' questão de ameaçar subir as grades que nos separavam do palco, mas quem nos pode culpar? Bandas destas dificilmente viriam a Portugal...Mas já lá vamos...
Foram dias de puro prazer não só para os ouvidos... Fica a certeza de que num festival destes quase podemos ver Deus. Não, não falo de Stephan Koglek, Isaiah Mitchell, ou Mario Rubalcaba...
Para o ano há mais...

Site do Festival:
http://festivaldelcastell.com/


--Dia 24--

Quid Rides?
Esta banda de 'miúdos' marcou presença neste festival com o intuito de apresentar o seu álbum de estreia Amalgama. Post-Rock no seu esplendor, para aquecer (perdão, arrefecer) as poucas dezenas que assistiam. Tocaram com muita confiança, e quem assistiu aplaudiu...


Moön

O papel de substituir os clássicos Groundhogs (problemas de saúde de Tony Mcphee) ficou a cargo dos Möon, banda vinda de Alicante, ali tão perto... Riffalhadas com poucos vocais, Karma to Burn em tons de 70's. Quase nenhum psicadelismo, é certo, mas que caiu muito bem aos poucos que assistiam. Versão de Rat Salad despertou atenções, e compensou quem já abanava a cabeça com fulgor... Parece ter também despertado as atenções ao Dj responsável pela música nos intervalos dos concertos, que depois de ter passado Pink Floyd e Hawkwind, passou, a partir daqui, a não conhecer mais nada a não ser Black Sabbath...


Dixon II

E por falar em Black Sabbath, Dixon II apresentaram-nos músicas 'doomescas' ampliamente influenciadas não só por Sabbath como Hawkwind, principalmente nos trejeitos psicadélicos vindos do órgão. Mais uma banda heavy, a celebrar a noite que já era cerrada... Trouxeram um segundo baterista, não se percebeu bem porquê, mas mostraram que são uma banda de sonoridade bem definida, com Great Funeral Magic a mostrar isso, quer da banda, quer das pessoas que ouviam com muito agrado...Celebração do Heavy obscuro e arrastado no seu auge...


Mater Dronic

Podia dizer maravilhas desta banda formada em Toledo, não era para menos: depois de meia hora a subir a pé a estrada que liga Callosa a Guadalest debaixo de cerca de 40ºC, a faltarem 10 km e 2 horas e meia para o ínicio do festival, e sem carros que nos dessem boleia, é então que estes tais Master Dronic a bordo duma carrinha azul param, encolhem-se, e nos levam com eles...Entre muitas coisas, contaram-nos que já tinham feito uma espécie de tour no nosso país (Porto Rio incluído) há uns anitos, sob o nome de T-Sex. Mas mudaram de guitarrista e de nome, e pelos vistos de musicalidade também. Aproveitando o facto de me terem oferecido um álbum de T-Sex (depois de ter dito que lhes comprava todos os álbuns só pela boleia), concluo que a mudança se deve a Jose Carlos Sisto, guitarrista de grande capacidade técnica e melódica, que não tem mãos a medir nos solos que toca...Rock, simplesmente Rock, dotado duma guitarra que pode fazer quase tudo...Riffs que parecem solos, solos com grande carga psicadélica, bons refrões, e Jose Sisto a reencarnar Neil Young em todos os aspectos: momento da noite, Down by The River a ser tocada no meio dum solo improvisado, e cantado em uníssono pela plateia, foi bonito...


Traummaschine e Beiruth

Depois de uma série de bandas pouco ou nada psicadélicas, nada melhor que ir ao extremo do rock psicadélico juntando duas bandas que não só reencarnaram os Hawkwind (principalmente pelo pormenor das vestimentas), como o fizeram totalmente ao improviso...Ficou a sensação de que os músicos competiam para ver quem sacava mais sons psicadélicos; o que é certo é que durante cerca duma hora, tocaram sem parar, e o nome do festival fez muito mais sentido...


Colour Haze

Não é pecado nenhum dizer que eram os cabeças de cartaz do festival, mesmo que houvesse expectativas maiores em relaçao a Earthless, eram aos alemães Colour Haze a quem cabia trazer o máximo de pessoas ao festival. Em relação aos dois dias talvez não fosse bem assim, mas era-o com toda a certeza no primeiro dia, onde partilharam o palco com as bandas mais 'desconhecidas' do cartaz. Facto que parecendo estranho, até tinha a sua lógica. O cartaz de luxo que se apresentava no segundo dia podia bem competir apenas com os Colour Haze e Groundhogs. Estes últimos cancelaram é certo, mas os Colour Haze fizeram questão de mostrar porque são a banda Stoner (eles não se importam com esta classificação) mais activa e respeitada do momento. E não desiludiram as dezenas de festivaleiros que esperaram por eles todo o dia 24. Após alguns problemas técnicos, supostamente devido às cordas da guitarra de Stephan Koglek, como o próprio me confessou no soundcheck (já tinha ganho o dia só pela conversa :), e depois dum atraso algo estranho, que deixou os três músicos parados em palco à espera de poderem começar (teria mesmo sido por causa do dançarino?), os Colour Haze foram iguais a si próprios, não inventaram, e não surpreenderam, mas nem precisavam.
Para quem estaria preocupado se a banda tocaria principalmente temas do mais recente álbum 'All', pôde ficar descansado à terceira música. Depois das bem recebidas Silent e Moon, as primeiras notas de Aquamaria deixaram o público a salivar perante o génio de Koglek. Do 'All' ainda se ouviu a Lights, a Stars e a All, mas de resto, foi um alinhamento que buscou um pouco de cada álbum, dentro dos possíveis claro, tendo em conta a extensa boa discografia da banda. Peace, Brothers and Sisters, Tempel, e a orgásmica Love a fechar foram as mais sentidas pelo público, de resto as rockalhadas deram lugar às músicas mais psicadélicas com exemplo da Sundazed a ser das poucas representantes do Les Sounds of Krauts. Os três músicos pareciam concentradíssimos e nem os problemas causados pelo vento prejudicaram o profissionalismo e genialidade da banda. O encore acabou por ser o mais surprendente. Para quem esperava que se tocasse a Outside (mas perdoa-se pela quantidade de vezes que o riff foi tocado nos testes) ou mais hinos psicadélicos da banda, é I won´t stop e uma já bem antiga Get it On a porem o headbanger do público no máximo. Mesmo com Koglek a pedir desculpa pelo cansaço e por não tocarem mais, restou ao público perguntar 'Qual cansaço?'...Foi a primeira vez que tocaram em Espanha, e fica a promessa de virem em Portugal...


--Dia 25--

Mystic Frequency Worm
Stoner-rock feito de riffs e vocais à imagem do bom velho hard-rock, foi o que ouvimos destes madrilenos que traziam na bagagem o seu disco de estreia From the top of the sound mountain. Boa maneira para começar um segundo dia repleto de grandes bandas, e de sonoridades diferentes. Perante uma plateia que ia crescendo incomparavelmente com o dia anterior, mantiveram-se muito seguros e muito à vontade em palco, compensados por uma boa recepção, principalmente daqueles que adoram umas boas riffalhadas à anos 70.


Causa Sui
Os dinamarqueses Causa Sui, apesar de serem umas das bandas com mais renome, foram colocados estrategicamente em segundo, comprovando um alinhamento que se viria a mostrar como um dos pontos positivos do festival. Já 'longe' vão os tempos em que os Causa Sui eram uma banda com um vocalista e com uma vontade de 'arrebentar com tudo', mesmo assim foi uma pena, pelo menos para os poucos fãs mais devotos presentes no festival, que o concerto se tenha centrado apenas nas epopeias psicadélicas das summer sessions, principalmente no segundo e terceiro volumes que saíram no mês passado. Mas acabava por fazer todo o sentido: num festival que se quer psicadélico, numa paisagem fantástica e num alinhamento que os pôs a tocar durante o pôr-do-sol, todas aquelas músicas pareceram perfeitas para o momento. O destaque vai para a belíssima Red Valley, anunciada pelo guitarrista Jonas Munk como sendo dedicada ao Sol vermelho que se começava a esconder nas montanhas, belo momento sem dúvida...Apesar de tudo, antes de inciarem o concerto, Munk teve de pedir ao público que se aproximasse do palco, tamanha ainda era a dispersão, algo estranho para uma banda como esta. Mas se os que não conheciam muito bem Causa Sui eram assim tantos, de certeza que depois do concerto não ficaram indiferentes aos épicos psicadélico-progressivos tocados com uma delicadeza única, por quatro músicos que mesmo tocando sem saxofonista foram fiéis às músicas de estúdio, e apresentaram-se com uma calma irreconhecível comparada com os primeiros anos.


Viaje a 800

A jogar em casa, os Viaje a 800 sabiam que eram a banda mais querida do público (espanhol concerteza), e ofereceram um concerto direccionado para os fãs e não tanto para quem os desconhecia. Digo isto pelo alinhamento das músicas, que mesmo não se centrando unicamente em Estampida de Trombones e Diablo Roto, houveram músicas que surpreendentemente ficaram de fora. Mesmo assim, a banda de 'Stoner que não usa riffs Stoner' mais internacional de Espanha, pôs a multidão a cantar em coro aos primeiros versos de Los Angeles Que Hay En Mi Piel, com o vocalista dos Dixon II a dar uma 'mãozinha' no palco (sim, porque 'vozinha' não se ouviu lá muito bem)...De resto foi um grande concerto, com as potencialidades 'metal' do guitarrista Pol Elder a porém o público a abanar a cabeça constantemente com tanto groove, agradecidos pelo sorriso também ele constante dos três músicos que pareciam tocar como se nada fosse. A música faz jus ao nome da banda, é certo, mas foi com uma enorme e lenta Roto Blues a pôr-nos a viajar a um Doom tão ausente no festival, que o concerto terminou. Pediu-se mais...Não houve mais...Soube a pouco...


Witchcraft

Da Suécia chegou-nos a banda que parece ser um clássico mas não é, Witchcraft, que mobilizou muitos fãs para o festival, é já um culto no panorama Heavy não só na Europa. Os riffs mais que batidos pelos Black Sabbath, acompanham os vocais fenomenais de Magnus Pelander, construindo verdadeiros clássicos heavy doom como Hey Doctor ou Lady Winter, que puseram a plateia ao rubro. O alinhamento foi extenso, tocaram grande parte dos três álbuns, os fãs mais fervorosos só tiveram de agradecer, e na verdade foi um grande concerto, que pondo de parte as piadas de Pelander com o nome da localidade, fez estremecer até os muros do castelo.


Astra
À semelhança do que aconteceu no dia anterior, coube à penúltima banda trazer o rock psicadélico na sua máxima força, neste caso com bases muito progressivas. Os Astra são uma banda de San Diego, tal como os Earthless, e com um potencial enorme comprovado no seu álbum de estreia The Weirding, um dos melhores do género desde que os Pink Floyd, King Crimson, Yes e companhia mostravam que o rock progressivo era o género de música mais inteligente e contemplativo que podia existir. Não vou tão longe, mas o que se viu e ouviu foi rock progressivo que arrepia. Os californianos fizeram com que o público fechasse os olhos diversas vezes para ver qual era a sensação. O meu apreço pelo guitarrista, que mesmo com a correia sempre a sair, tocou como pôde, e sem nunca falhar.


Earthless
Earthless são uma força da natureza que apanhou desprevenidos muitos dos presentes...Foi O concerto do festival, a todas as pessoas que ficaram as duas horas e meia de boca aberta perante três músicos na casa dos 'quase' 40 anos, que tinham doses de adrenalina acima do normal, posso dizer que também fui uma dessas. Quem nunca os viu ao vivo devia saber que os dois álbuns são apenas amostras dum psicadelismo que se quer tocado durante horas, sem regras, como num mundo à parte se tratasse.
Isaiah Mitchell toca como ninguém, é fantástico assistir a algo assim. São únicos e fizeram questão de o mostrar tanto, que pouco faltou para terem tocado até ao nascer do sol, não aconteceu, foi uma pena, mas só temos de agradecer a entrega dos músicos, principalmente Mario Rubalcaba que nem fazendo anos, poupou qualquer esforço, e pensava eu não ser possível tocar bateria daquela forma durante mais de duas horas praticamente seguidas. Tirando a versão de Cherry Red dos Groundhogs, não consegui sequer identificar as músicas pelas melodias do baixo, mas nem interessa, Earthless foi um grande, grande charro nessa noite.
Foi brutal...Foi o fim do festival mais desejado, suplicou-se que tocassem mais e mais, mas para tudo há limites, e contentamo-nos com a guitarra ácida de Mitchell a zumbir-nos nos ouvidos até mesmo depois de adormecermos no recinto.

domingo, 19 de abril de 2009

Rock Formations (2005) - Yawning Man

Estranho caso o dos Yawning Man, nasceram em 1986 no pseudo-futuro-seio do stoner-rock, Palm Desert, e estabeleceram muitas das bases para que os Kyuss se tornassem aquilo que foram em 1992 (e aquilo que são hoje)...É inevitável, por muito injusto que possa parecer, falarmos de Kyuss quando classificamos Yanwning Man de stoner: este trio americano foi das primeiras bandas a tocar nas 'generator parties', as tais festas feitas literalmente no meio do deserto com recurso a geradores independentes, inspirando Josh Homme e companhia, e onde os Kyuss se viriam a tornar um culto, arrastando tudo o que era de Palm Desert para a cena stoner, até mesmo o psicadelismo típico dessas festas, que os Kyuss quase sempre 'rejeitaram'...No entanto o som de Yawning Man baseado na guitarra 'viajante' de Gary Arce, é único, demasiado único, para uma banda que só com 20 anos de existência decide lançar o seu primeiro álbum! Yawning Man é neste momento um mito, infelizmente...Um mito que se vai mantendo seguro pelas mãos do stoner-rock, ora porque são de Palm Desert, ora porque o baterista Alfredo Hernandez fez parte dos Kyuss, ora porque os mesmos Kyuss fizeram uma arrepiante versão de Catamaran (do EP Pot Head)...
Rock Formations não é esses quase 20 anos de existência, na verdade todo o percusso de Yawning Man foi um pouco irregular (mudança de músicos, de sonoridade...), tendo até mudado de nome durante algum tempo, mas o que ficou para este álbum foi o som único da guitarra de Arce...Mais nada a não ser o contexto histórico pode relacionar Yawning Man ao Stoner-rock, aliás a sonoridade é bem típica do pop-Rock dos anos 70, com muita dose de 'surf-music' e pitadas de jazz, uma estrutura unicamente baseada em riffs, mas com a ausência dum vocalista que eleva os efeitos belíssimos duma guitarra que nos põe a viajar, não pelo universo, mas bem perto da brisa marinha californiana que anseia por refrescar os rochedos escaldantes de Palm Desert...
São dez músicas dum rock banal com algo de único...Os pratos de Alfredo Hernandez e o baixo de Mario Lalli são propositadamente frios e gélidos mas cobrem cada segundo da música, e os riffs de Arce tornam-se assim arrepiantes e quentes, e acima de tudo, muito expressivos, ora demonstrando alegria como a homónima Rock Formations, Split Tooth Thunder ou Crater Lake, ora demonstrando saudosismo, com a arrepiante Perpetual Oyster, Sonny Bono Memorial Freeway, ora mistério, com Stoney Lonesome ou She Scares Me, e um amontoado de emoções que explode em tons coloridos logo nas primeiras notas de Rock Formations...
Infelizmente os Yawning Man só sobreviveram para lançar este álbum e o Ep 'Pot Head', mas felizmente o som único da guitarra de Gary Arce respira noutros projectos bastante interessantes, como The Perfect Rat, espécie de Yawning Man com saxofone, Ten East, versão mais 'rockeira' e progressiva de Yawning Man, Dark Tooth Encounter/Waterways, versão mais espiritual e psicadélica, e Yawning Sons, que é nada mais nada menos que Yawning Man com vocais...Um culto...

1. Rock Formations
2. Perpetual Oyster
3. Stoney Lonesome
4. Split Tooth Thunder
5. Sonny Bono Memorial Freeway
6. Airport Boulevard
7. Advanced Darkness
8. She Scares Me
9. Crater Lake
10. Buffalo Chips

Stoney Lonesome (live)


myspace da banda:
http://www.myspace.com/theyawningman

sábado, 14 de março de 2009

Sonic Prayer (2005) - Earthless

Earthless é um daqueles casos que, se por um lado provam que no Stoner 'quase' tudo é possível - queiram eles ou não assumirem essa etiqueta -, por outro podem ser responsáveis, juntamente com outras bandas, pelo esgotamento de caminhos a desbravar dentro daquilo que é a sonoridade heavy dos anos 70...Na prática, Sonic Prayer demonstra isso mesmo, não pelo facto de ser um álbum com 2 faixas, mas pelo conteúdo que apesar de monótono, é completamente imprevisível, ainda para mais quando a principal influência é a 'Rockalhada' Blues dos primórdios da música pesada...Isso mesmo, imagine um riff de baixo inspirado em 'Immigrant Song' a ser tocado durante 20 minutos, uma bateria frenética, e um solo de guitarra eléctrica sempre a rasgar, tirando quando se lembra, de vez em quando, em tocar o riff...Assim começa este primeiro álbum deste trio californiano, mas surpreendemente Flower Travelin' Man não cansa, são 20 minutos sempre no mesmo ritmo, é verdade, mas a guitarra ácida de Isaiah Mitchell consegue cativar duma forma realmente incrível, tal como se estivéssemos num concerto a assitir a um longo solo improvisado de Jimmy Page na ''hard part" de 'Dazed and Confused'...Por falar em improviso, sem dúvida que Earthless é mais uma banda de jams e o seu potencial provavelmente será mais reconhecido ao vivo...
Lost in a Cloud Sun é um pouco mais elaborada que Flower Travelin' Man, apesar da composição ser o que menos interessa aos Earthless, a verdade é que os os dois riffs que compõem a segunda e última música de Sonic Prayer demonstram que Earthless não são apenas rasgados solos psicadélicos, aliás são estes mesmos riffs que vão preparando a base e marcando o ritmo para mais uma guitarrada enlouquecida...
Pode-se dizer que Earthless é um caso de coragem, para o reconhecimento que hoje possuem. Uma banda que transforma desta maneira o Heavy Rock puro em longas jams, só pode ser bem aceite não só por enveredar por novos caminhos, mas também pela carga de psicadelismo que não implica qualquer esforço de contemplação de quem ouve...

1. Flower Travelin' Man
2. Lost in a Cloud Sun

Flower Travelin' Man (excerto, live Roadburn)


site oficial da banda:
http://earthless.com/index.htm

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

My Sleeping Karma (2006) - My Sleeping Karma

My Sleeping Karma é o primeiro álbum do quarteto alemão com o mesmo nome, e antecede Satya lançado no ano passado que mais uma vez vem confirmar as qualidades duma banda que se encontra em ascensão em termos de reconhecimento internacional...Apesar das sonoridades não serem novas, My Sleeping Karma acaba por ser uma boa surpresa daquilo que vem sendo editado ultimamente no universo stoner mais alternativo, nomeadamente a níveis de composição...Nos últimos anos temos vindo a assistir a uma tendência de puxar o stonerrock para dois lados, de forma a que o conceito hoje em dia se encontre demasiado rasgado para que faça sentido, pois se num lado assistimos ao surgimento de bandas de Rock'n'Roll 'riffalhudo' puro e duro, do outro temos bandas de sonoridades stoner aplicadas ao extremo, tendendo para álbuns que muitas vezes não chegam a ser mais que meras bandas sonoras de estados de espírito; em ambos os casos o uso de sons psicadélicos faz sentido, mas com relevância distinta...My Sleeping Karma encontra-se a meio dos dois casos, com a novidade de ter uma pitada de post-rock, resultando numa música instrumental orgânica, com fortes bases progressivas, sem no entanto se afastar de doses de psicadelismo suficientes para honrar o nome da banda...
Na verdade, a 'frescura' da sonoridade de My Sleeping Karma prende-se com as composições progressivas de grande espectacularidade, baseadas numa conjugação interessante entre guitarra e órgão, sem complexidade ou distorções desnecessárias...
O órgão acaba por ser mesmo o trunfo na manga dos My Sleeping Karma, pois apesar do psicadelismo estar principalmente presente com base em sons de sintetizador, a fazer lembrar 35007, há malhas que fazem toda a diferença como em Glow11, o resto são melodias delicadas ou riffs agrestes de guitarra - dimensionados por uma bateria com forte presença, nomeadamente nas batidas secas da tarola -, montados de forma insistente mas harmoniosa, muitas das vezes a recordar Pelican, como em Eightfold Path ou 23 Enigma...Hymn72 envoca o espírito mais 'rockalheiro' do álbum; enquanto Intention - em que 9 minutos formados por 2 soberbos riffs dão uma espectacularidade única à abertura do disco - e Drannel Xu IIop constituem-se como as pérolas mais progressivas...My Sleeping Karma acaba por ser um álbum variado, com 5 faixas bastante distintas em estrutura e velocidade, mas mantendo uma inteligência rara de composição, a que o Karma da banda fará justiça com certeza...

1. Intention
2. 23 Enigma
3. Hymn 72
4. Glow 11
5. Drannel Xu IIop
6. Eightfol Path

Intention (excerto, live SFTU)


site oficial da banda:
http://www.mysleepingkarma.eu/

sábado, 31 de janeiro de 2009

Liquid (2002) - 35007

35007 nunca me atraíram muito, e por isso foi uma daquelas bandas 'encostadas' para um canto, mas há pouco tempo decidi pegar no seu quinto álbum (segundo em registo instrumental, resultante da saída do vocalista em 2001) como desculpa para criar ambiente...Esta banda holandesa acabou por não me deixar ficar indiferente desta vez, muito devido às entradas monumentais de momentos de destruição maciça compostos por acordes contínuos que se deixam soar, ou por riffs stoner semelhantes na simplicidade e na monumentalidade... Mas porque a principal base de 35007 não são os momentos de peso, mas sim o psicadelismo espacial, esta banda composta por inúmeros músicos, são uma autêntica máquina de space-rock, ou por outras palavras, soam como um satélite a vaguear calmamente pelo espaço, pronto a explodir a qualquer momento... 35007 significa 'loose' num código que transforma letras em números, facto que aliado a uma insistência por parte da banda em fazer da matemática espacial o seu suporte temático, não faria prever porém sonoridade tão carregada de dramatismo, e isto sem falar das monumentais explosões espaciais que nos fazem saltar da cadeira, por duas vezes como em Tsunami... Na verdade, os momentos de psicadelismo, baseados num sintetizador que nos transporta para um qualquer documentário de Carl Sagan, um baixo riffalhudo, e duas guitarras com arranjos padronizados e insistentes, criam atmosferas agradavelmente lunáticas, e dramaticamente crescentes como em Crystalline...
Liquid é composto por 4 faixas, mas podia ser muito bem um único álbum pelo facto de todas as faixas apresentarem juntas uma 'montanha russa' progressiva consistente; não quer isto dizer que o álbum é todo igual, bem pelo contrário, as sonoridades de cada faixa é que acabam por se conjugar de forma perfeita, e mesmo indo buscar uma estrutura muito progressiva, os momentos pesados de dimensão bíblica, acabam por ser o fio condutor dum álbum que se quer ouvido do princípio ao fim, sem interrupções...Tsunami inicia a viagem intergaláctica, esta típica faixa à 35007, começa com um sintetizador solitário que se mantém até que o ouvinte acredite estar a levitar calmamente entre as estrelas, e logo após as guitarras entram para criarem ambientes obsessivos em crescendo, antecedendo momentos de peso, a que os 35007 conseguem com muito mérito dar uma monumentalidade completamente conveniente ao ambiente que querem criar..No caso de Tsunami e Evaporate, o recurso a riffs stoner nas explosões galácticas, não chegam porém para nos fazer crer de vez que 35007 é mais que uma banda de música ambiente, ao contrário do que nos poderíamos aperceber em outros álbuns...No entanto, basta ouvirmos a beleza de composição psicadélica que Crystalline e Voyage Automatique nos proporciona, para concluirmos que 35007 é uma banda que desempenha o seu papel bastante bem, e que se nunca me tinham atraído antes, foi talvez porque esperava que Liquid se baseasse apenas na força riffada de Evaporate... Mas não, Liquid é assumidamente ambiental, feito de psicadelismo bem elaborado e construído, totalmente inspirado no universo...Feche os olhos e seja austronauta por 40 minutos...

1. Tsunami
2. Crystalline
3. Evaporate
4. Voyage Automatique

Tsunami



site oficial da banda:
http://www.dse.nl/~drie5007/

domingo, 14 de setembro de 2008

Lucifer Songs (2005) - Ufomammut

Mais um trio, desta vez vindo de Itália, os Ufomammut são uma proposta de grande peso (em todos os sentidos da palavra) para quem adorar um Doom Industrial levado ao extremo...Mas Ufomammut contorna o Doom de uma forma algo genial, dando-lhe mais peso, incorporando sons psicadélicos de sintetizadores à anos 70 (a carga psicadélica da primeira fase de Pink Floyd pode ser aqui relembrada), distorção inflamada da voz e riffs excelentes que têem a potência do Stoner, e o peso do Doom...Tudo isto aliado a uma afinação bastante grave, cria um ambiente único, industrial, sufocante, mas contemplativo...Em suma, Ufomammut é peso bruto sobreposto a um psicadelismo extremo...Em três álbuns de originais (um quarto denominado 'Idolum' sairá este ano), Lucifer Songs é o último e mantém a mesma sonoridade poderosa da banda...Lucifer Songs é um álbum que varia entre faixas com riffs memoráveis: Mars é sublime, Blind contém uma melodia vocal perfeita no submundo dos Ufomammut, e Hellcore tem a estrutura mais típica da banda, um longo ambiente psicadélico marcado por sintetizadores seguido de riffs de outro mundo, ou não fossem estas as 'canções de Lúcifer'...Todas as outras faixas são ambientes psicadélicos levados ao limite (por vezes a fazer lembrar Lustmord), destaque para a oportuna última música Lucifer Song...Todas as faixas conjugadas numa estrutura que nos obriga a ouvir o álbum como um todo, e não saltando faixas...
Lucifer Songs é mais uma ode ao som industrial arrastado dos Ufomammut, mas apesar dum som original e único, e duma produção muito boa dos seus álbuns (tecnologicamente perfeita no que toca a jogar com o stereo, e com o uso do som de sintetizadores; e o destaque do trabalho gráfico de Malleus), Ufomammut não é de fácil audição, devido à sua sonoridade levada ao extremo, e aos ambientes que são de 'endoidecer', para se ter uma noção, a genialidade dos riffs quase pode passar despercebida no meio deste ambiente negro..No entanto, para um ouvinte que procure o som mais pesado e ao mesmo tempo ambiental, este disco é perfeito...

1. Blind
2. Hellcore
3. Hypnotized
4. Mars
5. Astrodronaut
6. Lucifer Song

Blind (live Milão)


site oficial da banda:
http://www.ufomammut.com/

Colour Haze (2004) - Colour Haze

O disco homónimo dos Colour Haze, é nada mais nada menos que o sétimo registo, e actualmente este trio alemão formado em Munique, está prestes a lançar o seu nono álbum em 13 anos de existência! Não é apenas este facto que faz deles uma banda respeitada na cena Stoner, mas sim, que mesmo depois de tantos álbuns, os Colour Haze mantêm uma sonoridade própria; sonoridade essa que passou por uma fase mais 'rockeira', e manteve-se mesmo em álbuns de psicadelismo quase extremo, marcado por músicas que chegavam a 20 minutos de duração...Tudo isto devido à genialidade 'autista' de Stefan Koglek, o guitarrista e vocalista dos Colour Haze, já irei explicar porquê...Ouvir Colour Haze é como assistir a um concerto de Jazz, em que Koglek toca guitarra como se mais nada haja à sua volta, e o baixo e bateria acompanham como podem...De facto até o psicadelismo mais acentuado dos Colour Haze resume-se a uma guitarra em estado de 'possessão', um acompanhamento de baixo e bateria e nada mais...A guitarra, pouco distorcida, de Koglek passeia entre partes mais calmas, com influências Jazz e Blues, e progressivamente intensifica-se para riffs stoner à la Sabbath e Kyuss, nunca perdendo o sentido emocional da canção, inda para mais quando se soltam de vez em quando os versos melódicos Blues e um pouco Country de Koglek...Um som puro e limpo, e é uma única guitarra que cria o som de marca dos Colour Haze...
Eu escolhi este álbum, não por achar ser o melhor deles, mas sim por achar que cruza a fase mais rock, com a fase mais psicadélica, e deve ser apesar de tudo o álbum mais variado da banda...A provar este cruzamento de estilos está a poderosa canção de 22 minutos, Peace, Brothers & Sisters! que se à partida nos preparávamos para ouvir mais um recital de solos 'jazzísticos' de longa duração, os Colour Haze surpeendem com a faixa mais pesada do álbum, através de riffs, solos a rasgar, e versos de peso que vão variando em tons psicadélicos, tudo isto durante mais de 20 minutos! A maior dose de psicadelismo dos arranjos de guitarra de Koglek encontra-se porém em Love, talvez a melhor faixa do disco, mais por ser a que melhor representa o típico som dos Colour Haze, uma guitarra muito delicada que durante bastantes minutos passeia-se em tons que podem fazer perder a paciência a quem for indiferente ao jogo de emoções que a guitarra transmite, mas que em posteriores audições prende e muito, e que progressivamente vai subindo de intensidade até atingir o clímax em riffs do mais puro Stoner, enquanto a voz de Koglek recita versos em prosa...sublime...Mountain e Flowers são canções mais rock, principalmente nos belos versos e na presença acentuada de riffs, que fazem dos arranjos psicadélicos simples 'pontes'...Mas se é bem verdade que as músicas de Colour Haze são grandes e não possuem refrões ou solos (no popular sentido da palavra), também é verdade que este facto atribui um psicadelismo a toda a canção que vai além dos arranjos da guitarra...Solitude é a típica faixa acústica que serve de 'descanso' (não é uma versão da canção de Black Sabbath, mas o objectivo é o mesmo), no entanto não deixa de ser bela, com arranjos dum orgão despercebido...O resto é a magia típica da guitarra emocional de Koglek...Um álbum que à primeira audição estranha-se, mas que depois se entranha, em tom quase viciante...

1. Mountain
2. Tao Nr. 43
3. Did êl It
4. Love
5. Solitude
6. Peace, Brothers & Sisters!
7. Flowers

Love (live Rockpalast)



site oficial da banda:
http://www.colourhaze.de/

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Delmar (1998) - Los Natas

Delmar é o primeiro disco deste trio de Buenos Aires, que actualmente tem no seu reportório 6 álbuns de originais, algumas tournés pela América e Europa (infelizmente nunca houve uma passagem por Portugal), e mantém um reconhecimento mundial considerável para uma banda argentina (que canta em castelhano), mas que pode ser justificado por um estilo sempre à margem dos padrões normais da música (mesmo tratando-se de música psicadélica), e por manter associada a etiqueta stoner, que lhes valeu tocar para bandas do género como QOTSA, Nebula, Unida e outras...
Depois de Delmar, a banda foi seguindo um estilo progressivamente diferente, fazendo deste um álbum 'negro' em vários sentidos...apesar de ser um álbum quase 'esquecido' de Los Natas (a banda não tem tocado nenhuma faixa de Delmar nos seus regulares concertos), Delmar é um álbum com excelentes ideias, mas que à primeira audição pode soar algo monótono, muito ruidoso, exagerado nos sons graves, e muito, muito, mas muito depressivo ambientalmente...ora esta primeira impressão é muito devida à pobre produção do álbum, o que não admira no primeiro álbum duma banda que estava a dar os primeiros passos...
Delmar começa com Samurai, uma canção que melhor demonstra a ideia de todo o álbum, o baixo cria a melodia através de riffs muito bons e lentos, e juntamente com arranjos de guitarras eléctricas sobrepostas muito inspiradas, que variam para uma guitarra exageradamente distorcida com riffs lentos a roçar o doom (alguns riffs à la Kyuss também), criam ambientes psicadélicos lindíssimos...o guitarrista e vocalista Sergio Chatsourian numa entrevista admitiu que as músicas dos inícios de Los Natas eram criadas em longas jams motivadas pelo uso massivo de várias drogas...pelos ambientes de Delmar percebe-se bem...aliás o objectivo é mesmo esse, em Delmar os instrumentos confundem-se para criar esse ambiente negro e psicadélico; até mesmo os vocais são muito simples e raros, versos que Sergio vai soltando (neste registo, quase sempre em inglês), repetindo-os de acordo com a intensidade da música como se comprova em Samurai, bela canção...apesar das canções não serem muito grandes, e dos belíssimos riffs de baixo (Samurai, Delmar...) com os arranjos delicados das guitarras (Trilogia, Soma...) marcarem o álbum, 1980, I Love You e El Negro diferenciam-se pelo peso bruto e bastante distorcido tipicamente stoner...o álbum termina com a melhor faixa, Alberto Migre...apesar de ser um paradoxo em todo o álbum, eu arrisco dizer tratar-se duma obra-prima dos Los Natas, e que já fez emocionar-me numa audição atenta...esta canção não tem ponta de distorção, e não podemos associar-lhe a algum psicadelismo, ela começa com um som do mar, seguido dum baixo melódicamente delicado, que passado poucos momentos deixa entrar uma guitarra eléctrica que ao contrário das outras canções segue uma estrutura bem definida com riffs lindíssimos e melódicos que nos fazem associar todas as nossas lamentações...não é a 'balada' do álbum, mas sim a típica 'última faixa' que se diferencia, neste caso uma líndissima música que acaba por confirmar toda o ambiente criado por Delmar...
Não é por acaso que Delmar foi considerado um dos 10 álbuns essencias do género pelo stonerrock.com, numa audição atenta, o álbum é musicalmente belo e obscuro, e no fim veremos que não é tão igual como parece...mas tratando-se de psicadelismo, penso que Delmar não é aconselhável como música 'de fundo'...

1. Samurai
2. 1980
3. Trilogia
4. I Love You
5. Soma
6. Mux Cortoi
7. Delmar
8. Windblows
9. El Negro
10. Alberto Migre

Trilogia (com excerto do filme 'Duel' de Steven Spielberg)


site oficial da banda:
http://www.natasrock.com/